Sexta-feira, 19 de Maio de 2006

Ele decidiu saltar

 

Aos 31 anos de idade, ainda antes da tão angustiante idade de Cristo, um homem decidiu suicidar-se por motivos ligados às dívidas acumuladas e estrangulamentos momentâneos do seu orçamento familiar decorrente do desemprego bem como de múltiplos e complexos problemas. Subiu até ao oitavo andar de um prédio e decidiu saltar dai para baixo. Seria uma morte agressiva, mas, rápida e sem sofrimentos adicionais. O prédio em causa tinha oito andares. O homem contou até três e saltou.

No sétimo andar estava Fradique de Menezes, com alguns amigos, em exercício de reflexão para a tomada de uma decisão relativamente à sua candidatura para a Presidência da República. Fradique e seus colaboradores viram o vulto passar na janela com grande velocidade e acorreram na direcção da mesma. Fradique perguntou ao vulto:

- Então pá, por que razão vais tão rápido para baixo? O indivíduo respondeu:

- Estou desesperado e tenho pressa! Fradique replicou: - Boa viagem e dê cumprimentos meus a todos quando chegares ao destino.

No quinto andar, no parapeito da janela, estava Carlos Graça e dois colaboradores, incentivando-o para uma eventual candidatura à Presidência da República. Viram o indivíduo, vir de cima, em grande velocidade rumo ao solo. Aflitos e preocupados, Carlos Graça e seus colaboradores prepararam rapidamente um lençol e abriram-no com objectivo de travarem o indivíduo em queda livre. De nada valeu. O indivíduo, em grande velocidade, furou e rasgou o lençol prosseguindo a sua caminhada em direcção ao solo.

- Que pena! Gritaram em uníssono.

No quarto andar estavam Patrice e o pai Miguel Trovoada, discutindo a decisão de uma eventual candidatura Presidencial de um deles, bem como, estratégias, apoios e objectivos em torno da mesma. Presumindo a aproximação de um vulto, tendo em conta os gritos que se ouviam do quinto andar, aproximaram-se da janela. Dispararam ao mesmo tempo: - Quê isto!!!!

O vulto respondeu: - Sou eu!! Obrigaram-me a tomar esta decisão… Gente má e sem escrúpulos…

O Miguel respondeu: Eu já sabia!! O Patrice replicou: Vai devagar e com calma…

No terceiro andar andava o Pinto, com ajuda de alguns colaboradores próximos, a compilar um texto sobre as memórias daquele para eventual publicação. Com a zaragata que se passava nos andares superiores correram para a janela para verificarem o que sucedia. Depararam com um vulto a aproximar-se em velocidade crescente gritando: - Socorro!!! Socorro!!! Socorro!!!

Pinto aproximou-se da janela e disse baixinho aos seus fiéis colaboradores: - Já não há nada a fazer!!!! Adivinhem, entretanto, qual daqueles cinco homens vai tentar impedir o suicida de se esborrachar no solo…

A.C

publicado por adelino às 22:20
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Sábado, 13 de Maio de 2006

As Moscas

 

 

Há alturas em que, pela vontade de Deus (ou de qualquer outra entidade mística) ou pelos desmandos dos Homens, cai e perdura sobre os países o flagelo da incapacidade e desorientação colectiva. Parece-me, ser esse, o nosso caso momentaneamente. Sendo assim, os homens ou as instituições, comportam-se como as moscas numa janela: conseguimos detectar os seus movimentos, as suas ambições e expectativas mas elas não percebem porque razões não conseguem passar para o lado de lá da janela. Incapazes e desorientadas, as ditas criaturas, espetam-se contra a janela, não cansam de voar e, ciclicamente, não compreendem as causas dos seus insucessos e fracassos diante da referida janela. Este é um exemplo flagrante que pode contribuir para caracterizar o nosso arrepiante sistema partidário. O MLSTP-PSD depois de se espetar, durante quase trinta anos, contra a janela, não conseguiu passar para o lado de lá, e o pior é que, nunca compreendeu nem interiorizou, (nem se esforçou para tal) as razões do seu fracasso. Comportou-se, neste caso, como uma mosca durante o seu ciclo de vida, passando por um processo de metamorfose característico da espécie em causa e, agora adulta, corre o risco de desaparecer deixando ovos e larvas espalhadas no quintal que hão-de prolongar geneticamente os atributos da sua espécie. Agora temos outra mosca, com outros atributos e características, mas, revelando desde a fase larvar a mesma incapacidade e desorientação perante a janela. É o caso do MDFM/PCD, partido ou movimento de inspiração, do Senhor Presidente, Fradique de Menezes.

Existem, pelo menos, três condições objectivas que permitem o exercício efectivo da autoridade política: legitimidade, que deriva do resultado eleitoral; capacidade de dominação ou de condições de poder que permite superar ou neutralizar as resistências que vão aparecendo pelo caminho; sentido geral de orientação que traduz a harmonia e equilíbrio necessário para que a sequência de decisões políticas seja consistente bem como eficaz. Ora, ninguém de bom senso pode duvidar ou colocar em causa a legitimidade eleitoral, do movimento político em causa, decorrente do acto eleitoral realizado recentemente no país, independentemente da menoridade relacionada com o problema do “Banho”. No entanto, não existindo uma maioria eleitoral nem ensaios de modelos de participação e de aliança com outros partidos, no governo e/ou na Assembleia Nacional, o exercício da função de dominação por parte do MDFM/PCD não estará posto em causa? Todos pensámos que sim e já há quem, apressadamente, na Assembleia Nacional recentemente eleita, prepara as facas e o alguidar para cortar o pescoço da referida mosca. Fradique de Menezes, impávido e sereno, agradece o gesto e, adivinhando a aventura e pressa, cria condições para matar três coelhos com uma só cajadada. Tendo escolhido, propositadamente, figuras de segundo plano do movimento em causa, para o referido governo, apressadamente apelidadas de incompetentes e corruptas pela opinião pública, Fradique aproveitou a ocasião para premiar seus amigos e colaboradores, bem como, trabalhadores incansáveis que permitiram que o partido ou movimento tivesse a vitória na referida eleição. Com isso, Fradique, mantém a máquina do movimento mobilizada até as próximas eleições autárquicas, regionais e presidenciais e evita deserções no seio da tropa. Por outro lado, criou condições para que o MLSTP-PSD e outras forças políticas da oposição, apressadamente, começassem a querer cortar a cabeça da mosca na Assembleia. É o que já se começou a notar: a Assembleia não autorizou que Fradique fizesse uma visita oficial, em representação do país, à Líbia. Fradique agradece o gesto enquanto estimula os seus correligionários para que não se desmobilizem e trabalhem afincadamente, no terreno e no governo, em prol da sua reeleição. A oposição está tão entretida com a eventual morte precoce da mosca, na Assembleia, para entregar ao Fradique a cabeça da mesma como prémio. Esquece a mesma oposição que é exactamente isto que o Fradique quer, para que o seu governo, depois de fazer umas pequenas obras, tratar urgente e superficialmente dos nossos pobres e marginalizados, começar a vitimizar-se e criar, com tal, condições para convocação de eleições legislativas antecipadas, lá mais para frente, depois de ter sido reeleito Presidente da República. Com isto conseguiria:

a)    tratar da vida daqueles que, estando agora no actual governo, são apelidados de incompetentes e corruptos, desfazendo-se dos mesmos, mais tarde, sem criar rupturas no movimento numa altura crucial de batalhas no terreno;

b)   reforçar a base eleitoral do movimento, chegando aos contornos de uma hipotética maioria absoluta, que lhe permitiria, em cooperação com outras forças na Assembleia Nacional, implementar o seu projecto de Presidencialismo;

c)    definhar, financeira, organizacional e eleitoralmente, o MLSTP/PSD num ciclo de eleições que terminariam, provavelmente, com a realização das legislativas antecipadas na gravana do próximo ano;

É por isso que estas eleições presidenciais, que se aproximam, são extremamente importantes para o Fradique, bem como, para os partidos da oposição. Feito isto, Fradique, teria cumprido o seu papel, objectivo e sonho, coisa que nem o seu pai adoptivo, Miguel Trovoada, conseguiu. Provavelmente, Pinto e Miguel, nunca estiveram tão próximos, em termos de comunhão de propósitos, por causa das traquinices do filho adoptivo de um deles.

 No entanto, como em todas as histórias das moscas, teríamos em mãos outro problema: que programas ou soluções para os nossos problemas políticos tem o Senhor Presidente da República, Fradique de Menezes, para presentear-nos com o seu presidencialismo? Acho mesmo que esta é a maior insuficiência estratégica e metodológica do projecto e ambições do Fradique de Menezes. Com isso, Fradique teria conseguido esfrangalhar o MLSTP/PSD só que, o seu MDFM/PCD, continuaria a voar sem conseguir passar para o lado de lá da janela. Teríamos, então, uma quantidade anormal de moscas incapazes e desorientadas no quintal. Sendo algumas destas moscas hematófagas, ou seja, alimentando-se de sangue, estariam reunidas as condições para o desaparecimento dos seres humanos que vivem no lado de cá da janela.

 A.C

publicado por adelino às 18:30
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Quarta-feira, 10 de Maio de 2006

Eu, o Mar torto, as Ostras e Amêijoas

 

Há alturas que me apetece esconder de tudo e procurar abrigo nos flancos obstruídos da liberdade do Mar torto. De quando em vez apetece-me brincar às cores, como um polvo refilão, e refugiar-me posteriormente, nos lençóis escuros, tranquilos e esventrados da casa. O que eu quero mesmo é, simplesmente, dar umas valentes palmadas ao Mar, como uma baleia enfurecida, em sinal de resposta à preguiceira e insolência de todas as Ostras, Amêijoas e bichos afins. O Mar torto é que fabrica estas aberrações! Definitivamente, as carapaças incomodam-me: são inestéticas; escravizam e mutilam os sonhos. Os seus portadores alimentam-se de restos em decomposição. Tenho medo destes bichos que o Mar torto continua a fabricar envoltos em prisões de si mesmos. Quero nadar contra o Mar torto que continua a fabricar estas fixas criaturas.

A.C

publicado por adelino às 17:36
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Sexta-feira, 5 de Maio de 2006

Orgulhosamente Corruptos

 

Realizaram-se as eleições legislativas em S.Tomé e Príncipe. O novo governo já tomou posse e, entre discursos de circunstância protocolar e intenções programáticas, não se vislumbra nada, de novo, bom e desejável, com a finalidade de romper com a nossa desorientação colectiva e lamúria cíclica. Senão vejamos: desde o início da campanha eleitoral para as eleições em causa, até ao final da mesma, não se falou doutra coisa que não fosse o problema da corrupção no país. Foram feitas acusações e contra-acusações, nos púlpitos improvisados, com o objectivo de se entreter a plebe; discursos inflamados, com conteúdo personalizado relacionado com a corrupção, tinham como resposta doses pungentes no sentido inverso; programas e espaços de antena, televisivos e radiofónicos, só tinham como conteúdo a publicitação, acusação e desmontagem de casos de corrupção da suposta elite política que até ao momento governou o país. Qualquer turista em visita ao país, naquele momento, sairia daí com a sensação de que S.Tomé e Príncipe seria um antro da corrupção no mundo. Um extra-terrestre que aterrasse no arquipélago, naquele momento, estaria até hoje a soletrar com relativa facilidade a palavra, COR-RU-PÇÃO, de tantas vezes ela ter sido utilizada durante os quinze dias de campanha eleitoral no país.

 Qualquer pessoa poderia pensar ou presumir que, tendo em conta, a amplitude do alarme, das acusações e contra-acusações sobre o fenómeno em causa no período da campanha eleitoral, estaria encontrada a maior preocupação do actual governo, para acabar com a lamúria em torno do problema e arrancar o país para a fase do desenvolvimento. Pura ilusão! Não há sinal nenhum de fumo neste sentido: do ponto de vista discursivo, programático, organizacional, legislativo, metodológico ou operacional. A imagem que se passa para a comunidade nacional e internacional é de uma classe política orgulhosamente corrupta, que nos momentos eleitorais procura compartilhar este propósito singular com a generalidade dos Sãotomenses.

Não muito distante, em Cabo-verde, chega-nos a informação da realização naquele arquipélago, durante dois dias, de um seminário sobre a corrupção, em parceria com o Escritório Regional das Nações Unidas contra a Droga e Corrupção. As medidas recomendadas pelo referido seminário incluem: a constituição de um grupo de trabalho interministerial alargado e com a participação da sociedade civil, sem competência penal, para sistematizar e coordenar as orientações estratégias do Plano Nacional Contra a Corrupção; reforma institucional com eventual proposta de criação de um núcleo central na Procuradoria-Geral da República que recolherá, tratará e coordenará toda a informação existente em matéria de corrupção no país.

Mais perto ainda, em Moçambique, a primeira-ministra, Luísa Diogo, pediu ou exortou aos auditores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que se envolvessem em assessoria, no combate a fraudes e corrupção nos países que integram a referida organização. Rematou a referida governante: «… a cooperação entre os auditores, organismos públicos e privados é de extrema importância no combate à corrupção e à burocracia de modo a promover-se a eficiência e a transparência na gestão da “coisa pública”… Só assim podemos merecer a confiança dos cidadãos em relação às nossas instituições…»

Muito mais perto ainda, em Angola, sobretudo ao nível do discurso político por parte do maior partido da oposição, há sinais de mudança. A UNITA já propôs, por mais do que uma vez, a constituição de uma Alta Autoridade Contra a Corrupção em Angola, como forma de minimizar as consequências deste fenómeno neste país.

Nós, orgulhosamente corruptos, vamos entrar de peito cheio na era do petróleo.

 A.C

publicado por adelino às 16:51
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