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Autor da foto: Xavier Munoz (Yahoogroup-STP)
<b><font color="#FF0000"><p align="center"><font size="4">Procura-se domesticadores para espécies exóticas...</font></b></p>
<p align="justify"><font color="#000000"Domingo, 17 de Agosto! Começo a calcorrear em passada descontraída, um estreito caminho, esculturalmente comido pela avareza do tempo e desleixo humano que, me há-de levar ao recanto, momentaneamente mais simbólico do país. Trata-se da Capela de Nossa Senhora da Boa Morte. Aí há sinais de festa: a bandeira que continua içada perante tímida exaltação popular; inquietação dos juízes com o inconstante brilho das tochas de azeite que, ajudam a colorir a enegrecida e descomposta mobília do Santuário local e, a agitação do festeiro-chefe, imaculadamente vestido de branco, perante deslizes imperdoáveis de organização, relacionados com a chegada atempada de iguarias necessárias, para satisfação de apetites selectivos dos seus convidados de honra.
Como povo, somos provavelmente ao nível do mundo, o expoente máximo de eficiência, relativamente ao casamento entre manifestação da fé e exaltação festeira. Aos Templos juntamos o rufar dos tambores e, para suavizar o rigor no cumprimento dos dez preceitos do Mandamento e salvação das almas, nada melhor do que, muita comida e bebida.
Por isso, temos FESTA ATRÁS DE IGREJA continuamos a rir descontraidamente das nossas próprias desgraças e, transformamos os sucessivos golpes de Estado no país, em autênticas festas. É uma particularidade notável ao nível do mundo.
É neste ambiente de festa na Boa Morte, que, encontro o Rafael numa roda grande de amigos. Momentaneamente convertido em escrivão da referida festa, Rafael despacha os convidados especiais com relativa facilidade para os respectivos lugares, de acordo com a ordenação dos mesmos existentes numa lista, aparentemente secreta, que, esconde debaixo dos braços. Homem de sete-ofícios que, cultiva a discrição, sabe muito bem, ser suficientemente astuto, para mobilizar simpatias em torno dos seus projectos pessoais e ambições. É por isso, conhecido na freguesia e no país, como TODA-MESA e, não dispensa o seu papel quase vitalício de escrivão, saltando de festa em festa, em todas as freguesias do país.
Eu e a generalidade das pessoas presentes nas imediações da Capela, - maioritariamente masculinas somos convidados pelo TODA-MESA, para dirigirmos para o interior da mesma, cuja estreita entrada, encontra-se completamente entupida. Espreito com alguma dificuldade para o interior da Capela e desisto imediatamente da tentativa de desobstrução daquela montanha humana. Um facto curioso desperta a minha atenção: cerca de noventa e cinco por cento das pessoas que se encontram no interior da Capela são mulheres; enquanto a maioria dos homens preenche o espaço exterior da mesma, em grupos mais ou menos conspirativos, sobre a essência organizativa da festa, pouca diversidade gastronómica disponível e valor aromático e qualidade do vinho de palma, precocemente distribuído aos presentes. Os homens desistiram de Deus e entregaram às mulheres, a tarefa valente de salvação das almas.
Cumprido o ritual da praxe que ajudou a consolidar a imagem do TODA-MESA na generalidade das freguesias e no próprio país, este convida-me e mais uma dúzia de amigos seus, para um recatado jantar, num dos célebres restaurantes da cidade de S.Tomé. Estranho inicialmente o convite tendo em conta, a amplitude dos convivas, generosidade inesperada do anfitrião e duplicação espontânea de cenários festivos, embora com características distintas. No entanto, o paleio argumentativo e dinâmica discursiva habitual do TODA-MESA, contribuíram para suavizar as minhas dúvidas. Lá fomos os catorze convivas espremidos em dois carros, para o supracitado jantar.
Não se tratando de celebração de nenhuma efeméride importante, esperava eu, que, fossem adoptadas regras preliminares anteriores à dinâmica dos pedidos e recheios dos pratos, para que, o montante final da conta, não fosse excessivo para qualquer dos participantes, no referido jantar. Pura ilusão! O TODA-MESA no seu desconcertante jeito de anfitrião ensaiou a proposta de divisão da conta, igualmente por todos. Era o que faltava para que os tigres esfomeados pudessem saltar impiedosamente para cima de presas indefesas. Sendo assim, assistiu-se a uma corrida desenfreada às iguarias mais selectivas da casa, regada com champanhe Francês, sobremesa exótica e uísque Escocês raro. O resultado foi catastrófico: uma factura exorbitante para que todos pagassem e tiques de melancolia entre os presentes.
O cenário descrito acima, não é muito diferente daquele que sustenta a realidade do país, ou seja, naquele contexto, faltou: a adopção e cumprimento de regras por parte de todos os convivas no jantar; um chefe que centralizasse as escolhas de entre os pratos ou iguarias disponíveis no restaurante; ou em alternativa, boa fé ou civismo dos participantes.
De facto, as causas da nossa baixa auto-estima como povo e caos institucional que se vive no país, têm raízes profundas. Não pode haver boas decisões e mobilização para a tarefa de desenvolvimento, sobretudo em intervalos de tempo amplos, se, não houver organização, regras adoptadas e cumpridas por todos e sobretudo, autoridade. A organização é essencial porque permite criar alicerces para um trabalho colectivo continuado com fundamentações qualificadas. Isto só é possível no estado actual do desenvolvimento do nosso país, com o estabelecimento de novos protocolos de comunicação e de relação entre o PODER e o SABER. A adopção e cumprimento de regras é imprescindível porque, torna possível o contrato de organização e acção e amplificam as possibilidades de sucesso. A autoridade é o embrião e factor determinante da acção porque, implica orientação e comando.
No entanto, no contexto actual social, económico e cultural do país, falta organização onde há um mínimo de regras estipuladas que podiam ser cumpridas por todos; ou na generalidade dos casos, não há organização nem regras adoptadas e cumpridas por ninguém, o que, dificulta a emergência e consolidação da figura de autoridade. Só assim, se compreende a inversão e confusão dos papéis dos vários agentes políticos e sociais; o colapso crónico das instituições e a emergência e poderio de novas espécies exóticas no nosso (ECO) SISTEMA POLÍTICO, com reflexos na consolidação da democracia no país. De facto, os efeitos devastadores provocados pelos BÚFALOS, RINOCERONTE-BRANCO e outras espécies exóticas introduzidas voluntária ou involuntariamente no nosso ( ECO ) SISTEMA POLÍTICO merecem preocupações e reflexão profundas.
Os BÚFALOS como têm um carácter excêntrico e recusam o adestramento, intimidam e deixam marcas insanáveis no (ECO) SISTEMA . Além disso, sendo ruminantes, têm tendência a remoer os alimentos que voltam do estômago à boca.
Os RINOCEROTÍDEOS sendo animais de corpo robusto, cabeça e orelhas grandes, têm uma boa audição, no entanto, apresentam um sistema visual diminuído.
Sendo ambos mamíferos e herbívoros, estão reunidas as condições para uma luta titânica nos próximos tempos, em prol do controle da hierarquia, na cadeia alimentar, no nosso (ECO) SISTEMA POLÍTICO, sobretudo num momento em que, algumas espécies refugiam-se estivando.
Estando LAGAIAaparentemente fora desta luta, mas; sendo conhecedor antigo dos meandros das relações bióticas que se estabelecem no (ECO) SISTEMA e noctívago por excelência, - embora em vias de extinção - não abdica do seu papel de predador de primeira linha.
Estamos assim, na fase preliminar da alteração da configuração inicial do nosso (ECO) SISTEMA POLÍTICO , com : a emergência de novas espécies; aparente extinção de algumas e envelhecimento precoce de outras. As consequências serão nefastas, na medida que, não há (ECO) SISTEMAS que resistam a transformações desta envergadura, sem danos colaterais, sobretudo, num contexto de ausência de um conteúdo colectivo de defesa de causas nobres, de que o país tanto carece.</font></p>